quarta-feira, 4 de maio de 2011

KARI(RI)MAI

"Ele era um andarilho
Ele tinha um olhar cheio de sol
De águas
De árvores
De aves.
Ao passar pela aldeia
Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos.
O silêncio honrava sua vida"
(Manoel de Barros)

Múltiplo! Impossível entender Kari(ri)mai sem a compreensão das suas infinitas facetas, das sucessivas imagens que se vão projetando / refletindo nos incontáveis espelhos da sua obra. A leveza do traço oriental, o marrom-barro de muitas paisagens, o discreto toque surrealista de algumas composições, o sutil toque místico de tantos personagens, a crueza sulista de alguns bicos de pena e principalmente: o clima profundamente espiritualista e etéreo dos firmamentos.Karimai era este mosaico de sensações e de sentimentos. Impossível traçar a trajetória da sua vida sem se valer dos recursos do messianismo, do determinismo, do fatalismo. Como um artista sino-brasileiro, nascido no interior de São Paulo, faz o caminho inverso dos migrantes nordestinos e vem traçar os caminhos da sua existência no interior do Nordeste.Que mãos poderosas o impeliram? Quem empunhou o esquadro e o compasso ante o desafio do papel em branco?

Karimai aqui esteve, aqui viveu e fez brotar vidas. E, na sua meteórica passagem, debuxou incontáveis telas. Como no Gênesis recompôs a obra da criação, em poucos dias. Refez/recontou a viagem onírica do Kari(ri)mai. Não bastasse isso, úmido de espiritualidade, como um beato, fez brotar mais uma fonte das encostas do Araripe: a da solidariedade, da transcendência. Com a placidez de um monge tibetano projetou luz não só através dos seu quadros, mas como reflexo incandescente da sua própria vida. Puro, simétrico, cristalino, translúcido. sequer precisaria de palavras para convencer a todos que existem secretos e misteriosos cadarços que tocam nossos movimentos nesse imenso teatro que é o mundo. Kari(ri)mai era um doce beato, um Antonio Conselheiro sem tons apocalípticos.

Esta exposição traz um pouco da sua imensa produção artística. É apenas uma lembrança, um aperitivo. Foi impossível expor aqui a aquarela mais bonita e vuluptuosa que ele pintou. Até porque ela já se encontra exposta nos espíritos e corações de todos os Kariri(mai)enses, imune aos bolores e rigores do tempo e foi composta com as tintas do amor, da solidariedade e do silêncio.

J. Flávio Vieira

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